Um dos pioneiros da pecuária brasileira, o pecuarista Paulo Lutterbach Lemgruber morreu aos 89 anos, na segunda-feira, 6, por complicações cardíacas, no Hospital de Nova Friburgo (RJ). Seu corpo foi sepultado no dia 7, Dia da Independência, no município de Carmo, na serra fluminense, onde está localizada a Fazenda São José, uma de suas propriedades.
Lemgruber desenvolveu intenso trabalho de melhoria genética do nelore, o gado indiano trazido ao país pelo seu avô, o imigrante suiço Manoel Ubelhart Lemgruber.
O nelore é considerado a raça símbolo da pecuária brasileira, a segunda maior do mundo em produção de carne, com 10 milhões de toneladas anuais de carcaça – atrás apenas dos Estados Unidos – e a primeira em volume de exportação, com 2,5 milhões de toneladas por ano.
Chegada do nelore ao Brasil
A história da chegada desse bovino indiano ao Brasil é um dos episódios marcantes da pecuária mundial. Em 1878, Manoel Lemgruber ficou admirado com as características de um touro e um bezerro presos em uma jaula, em um zoológico da Alemanha, e decidiu trazê-los para o Brasil.
Como o tratador indiano dos bovinos se recusava a deixá-los sozinhos, pois são animais sagrados em seu país, ele foi trazido para o Brasil. A família havia migrado para em 1819 para o cultivo do café e, décadas mais tarde, com o declínio da cultura cafeeira, passou a criar gado.
Manoel morreu em julho de 1921, mas os descendentes continuaram o aperfeiçoamento da raça. Os bovinos criados pela família nunca foram cruzados com outros animais fora do rebanho formado na fazenda do Carmo e o gado passou a ser conhecido como nelore Lemgruber. Dali a genética se espalhou para o país.
Os animais de corte são conhecidos pelo bom rendimento da carcaça e as matrizes leiteiras por criarem bem seus bezerros. Os Lemgruber conseguiram tornar mais dócil uma raça conhecida por ser “nervosa”. Paulo formou outra fazenda, a Santa Clara, em Mucuri (BA). Com sua morte, a filha Cláudia, que já está à frente das propriedades, deve manter os criatórios.
Entidades lamentam morte
Nas últimas quatro décadas, o gado passou a ser registrado na Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), maior associação do mundo de raças zebuínas. Em nota, a ABCZ lamentou a morte do pecuarista. “O sr. Paulo traz na identidade e na genética duas das maiores referências na história do Zebu Brasil A família Lemgruber, assim como a família Lutterbach, dispensam apresentações. Enxergaram na espécie uma potencialidade ainda desconhecida e investiram nela. Se o Zebu brasileiro é hoje essa grande referência mundial, é também graças ao pioneirismo e empreendedorismo dessas famílias, passando pelas mãos do sr. Paulo Lemgruber, que hoje se despede de nós fisicamente, mas não na memória. Será eternamente lembrado pela importante contribuição para a pecuária e economia do nosso país”, escreveu
A Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) também lamentou o falecimento de Paulo Lemgruber e se solidarizou com os familiares e amigos do pecuarista. “Paulo Lemgruber foi uma referência para a produção de carne bovina no Brasil. Homem dedicado ao agronegócio, também era um grande amigo e exemplo para a pecuária. Durante sua vida, teve participação fundamental na evolução do Nelore, que se tornou a raça forte que conhecemos hoje. Desejamos que ele descanse em paz e prestamos nossas condolências à família”, disse Nabih Amin El Aouar, presidente da ACNB.
A entidade lembrou que Paulo fez parte de uma geração que continuou o trabalho de melhoramento do nelore iniciado por seus antepassados. “O Nelore Lemgruber figura como uma das principais marcas do país, trabalhando com a genética da principal raça zebuína há mais de 100 anos. Além disso, o criatório também participou da primeira importação de animais Nelore, no século passado.”
Em 2018, na Nelore Fest, da ACNB, em comemoração aos 150 anos do nelore no Brasil, Paulo recebeu homenagem da associação pelo pioneirismo na criação da raça.