Fraqueza e bengala é passado de idosos que preferem esportes e tecnologia em MS
Bengala, andador, cadeira de rodas? Definitivamente não define a nova geração de idosos que estão na ativa e não param só pela aposentadoria em Mato Grosso do Sul. Especialistas e os próprios ‘vovôs’ garantem que a figura arcaica do idoso frágil não existe mais.
Modernidade é o que Maria Auxiliadora Ramos, de 65 anos, procura. Soube por uma vizinha das aulas de informática e tecnologia. “A evolução tem passado muito rápido, a gente que tem idade precisa se modernizar. Nosso metabolismo não é mais o mesmo, é lento para acompanhar, fica mais difícil, não é impossível, tem que querer ficar atento. O jeito é não se acomodar e achar que as pessoas têm que fazer tudo pela gente, podemos fazer sozinhos”.
Morando com um filho, Maria é do time que não se importa em pedir ajuda, mas prefere fazer sozinha por medo de aborrecer. “As pessoas trabalham, tem dia que as pessoas estão estressadas, por isso temos que correr atrás da modernidade. Hoje em dia é só aplicativo para tudo, banco, falar com alguém e até para marcar consulta médica”.
Professora de dança há 25 anos, Sônia Ramos Rolon garante a atual geração de alunos. Segundo ela, os idosos estão mais ativos e não gostam de ‘ficar parados’. Mesmo com ritmos de baixo impacto e exercícios, a sala costuma encher.
“O corpo precisa disso, o idoso tem que se movimentar. Tem uma diversidade de estilos, de ritmos que elas gostam e se divertem muito. Nosso foco é na qualidade de vida, de espalhar sorrisos. O que a gente repara mais é que os idosos estão mais preocupados em se cuidar, ficar ativos. Tem idoso que não quer fazer só um tipo de atividade, quer fazer vários”, reforça.
Por falar em dança de salão, Elci Moraes Ribeiro, de 74 anos, nunca deixou de curtir uma boa dança, aliás, toda sexta-feira se arruma para ir ao baile. Ela mora a 17 km do CCI (Centro de Convivência do Idoso) Vovó Ziza e acorda todos os dias às 6h para ir ao local que mais gosta.
“Eu posso dizer eu comecei a viver depois da aposentadoria. Porque antes, eu não tinha tempo de aproveitar as coisas, de cuidar de mim. Trabalhei por 33 anos, cuidava dos filhos, da casa, do marido. Não tinha um tempo para me dedicar. Tenho minha rotina, mas consigo viajar, dançar, me exercitar. Já não vejo a hora de me programar para próxima viajem”.
Com um sorriso e uma energia de dar inveja, Teresa Hayafuji, 74, faz pilates e hidroginástica há 12 anos. Veio de São Paulo para Campo Grande em 1990, assim, adorando a tranquilidade e calor diário da Capital Morena.
“Comecei a fazer exercícios por causa de uma doença do meu marido. Começamos e não parava mais. Um dia antes de partir ele ainda brincou: ‘Vou perder minha aula de hidro’. Ainda faço musculação na igreja. Me sinto feliz fazendo exercício. Tenho uma saúde irritante e ainda vou irritar muita gente”, brinca a aposentada.
A cara nova dos idosos
O médico geriatra e professor da Uniderp, Marcos Blini, reforça que o estereótipo de velhinhos corcundas, dependentes e frágeis pouco se vê, já que o envelhecimento saudável tem dependido da geração que já se preocupa antes de completar os 60 anos de idade. Ele define que para envelhecer com saúde o idoso deve ter uma rotina ativa.
“Atualmente as pessoas buscam envelhecer de uma forma mais ativa, cada vez mais tem tido procura nos consultórios médicos, tanto de clínicos quanto de geriatras, com pessoas que querem cuidar bem da saúde para lá na frente. Sempre brinco com meus pacientes que a gente não envelhece diferente do que a gente viveu. Se tem uma vida regrada na alimentação, nos exercícios, trabalha e tem uma vida social é mais propenso de envelhecer bem. Na rotina contrária ou depois da aposentadoria não faz nada, pode ter uma velhice ruim”, explica.
A importância de ter uma vida mais movimentada depois da aposentadoria vai além do bem-estar físico. O especialista ressalta que é muito comum idosos desencadearem depressão ou isolamento. A saúde mental recorre a questões sociais, por exemplo, continuar a convivência com a família, amigos, vizinhos, conhecidos.
“A depressão é uma doença que cada vez acomete mais a população em geral, incluindo os idosos, isso está muito relacionado à questão do propósito de vida. Aquele idoso que se sente incapaz, inválido e não tem autonomia, tem muito mais risco de ter depressão do que um idoso ativo e com a saúde geral boa. O diagnóstico da depressão é imprescindível. O idoso dificilmente tem os mesmos sintomas do que um jovem que chora muito; ele tende a se isolar, ficar mais quieto. O sofrimento psíquico requer a necessidade de atendimento adequado”.
O conselho do profissional é dar importância à interação social e se sentir ‘útil’, pois, depois da aposentadoria, muitos deixam de realizar atividades ou afazeres que eram acostumados antes. “A rainha Elizabeth II é um exemplo de envelhecimento saudável, por exemplo, era uma pessoa muito autônoma, ativa, trabalhando em questões burocráticas e políticas aos 96 anos. Do ponto de vista ativo, o idoso deve fazer atividade física, social de estar junto com a família, ter um papel social”.
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