Fla-Flu, que volta a decidir o Carioca, tem sido marcado por ‘nocaute’ tricolor no fim
Desfrutar a rivalidade entre Flamengo e Fluminense, acirrada nos últimos tempos por disputas em alto nível e pela superioridade tricolor, é um esforço de 90 minutos. E que não permite sequer um piscar de olhos. Levantamento do GLOBO mostra que os últimos clássicos da dupla — que começa a decidir hoje, às 20h30, o título do Carioca — têm sido definidos por gols na reta final dos jogos, quase todos a favor do Fluminense.
Nos últimos dois anos, o duelo, que se repete na final pela quarta vez seguida, apresenta grande superioridade de um tricolor especialista em gols na reta final das partidas. O time das Laranjeiras soma oito vitórias em um recorte de 12 confrontos desde janeiro de 2021. Em oito deles, colocou a bola na rede após a marca dos 30 minutos do 2° tempo, o que resultou em sete triunfos e um empate — nada menos que sete desses tentos foram definidores de placar.
O último encontro entre os rivais foi mais um que teve um gol tricolor enterrando qualquer chance rubro-negra. Na última rodada da Taça Guanabara, Gabriel Pirani apareceu aos 40 minutos do segundo tempo para decretar a virada por 2 a 1 e, assim, o título do turno para os comandados de Fernando Diniz. O que deixou o técnico rival, Vítor Pereira, pressionado para a revanche que se inicia hoje.
Essa foi a segunda conquista seguida do Flu sobre o Fla, após o Campeonato Carioca de 2022. A equipe da Gávea levou o Estadual pela última vez em 2021. Só que a maré de sorte neste clássico mudou a partir do primeiro encontro daquele ano. No dia 6 de janeiro, em jogo válido pelo Brasileiro de 2020 — atrasado por conta da pandemia de Covid-19 —, o meia Yago Felipe fez um gol aos 48 do segundo tempo, aproveitando bola mal recuada por Filipe Luís, e decretou a vitória por 2 a 1.
Desde então, foram 12 Fla-Flus realizados, com oito vitórias tricolores, dois empates e apenas duas conquistas rubro-negras. Pirani e Yago fazem parte de uma lista que inclui Germán Cano, André, John Arias, Abel Hernández e até Igor Julião, lateral que só marcou um gol no clube — o da vitória por 1 a 0, pelo Campeonato Carioca de 2021, aos 38 minutos do 2º tempo.
O lado rubro-negro possui apenas dois gols feitos nessas circunstâncias. Um foi de Gabigol, no jogo do segundo turno do último Brasileirão, aos 38 da etapa final, mas o Flamengo perdeu por 2 a 1 de qualquer forma. O outro foi de João Gomes, na partida decisiva do Estadual de 2021, quando o volante entrou apenas para sacramentar o título: 3 a 1.
Do lado do Flamengo, a queda de rendimento e a maior vulnerabilidade na reta final dos jogos caracterizam uma equipe que, nas circunstâncias em que enfrenta o Fluminense, normalmente está em reconstrução, sob o comando de um novo treinador e/ou em começo de temporada. Portanto, longe da melhor forma física e também tática.
Soberania tricolor no Fla-Flu: em dois anos, são oito vitórias em 12 jogos, e muitos gols no fim — Foto: Editoria de Arte
Quem entra, decide
A crescente do Flu em clássicos tem a ver com uma mudança de mentalidade iniciada em 2019, quando o presidente Mário Bittencourt assumiu a presidência. No discurso, foi enfatizado o quanto as partidas contra os principais rivais do Rio eram importantes não apenas para a instituição, mas para os torcedores.
O apelido de Rei do Rio, confirmado após o título do Carioca de 2022, não veio à toa e é visto como um dos grandes feitos da atual gestão. A retomada da confiança aliada a bons trabalhos dos treinadores que passaram pelo clube ajudaram o Fluminense a deixar de ser presa fácil para se tornar pedra no sapato dos rivais.
Diniz, por exemplo, venceu dois Fla-Flus com gols nos últimos minutos nesta segunda passagem. Mas não foi o único. No período, o Fluminense também venceu clássicos sob o comando de Abel Braga, Roger Machado, Odair Hellmann, Marcão e até Ailton, auxiliar em 2021. A concentração até os minutos finais e a crescente da preparação física tricolor são dois pontos destacados para explicar os gols nos minutos finais.
Vencer clássicos no Rio é considerado o primeiro passo no processo de reestruturação do Fluminense. Antes de voltar a sonhar com títulos nacionais, era preciso ser temido localmente. Objetivo que, pode-se, foi alcançado nos últimos anos. Para recuperar a soberania estadual, o Flamengo precisará ficar ligado — até o fim.
Os dois clubes passaram pela mão de um variado número de treinadores nesses dois anos, mas um outro padrão observado é o das substituições ao longo dos 90 minutos. Em seis dos clássicos do período, jogadores que entraram no intervalo ou durante a etapa complementar marcaram gols decisivos. A vantagem do Fluminense também fica clara nessa estatística: 5 a 1. Nas assistências, outra goleada dos substitutos do tricolor: 4 a 1.
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