Cientistas pedem medidas para evitar entrada de cepa indiana do coronavírus no Brasil
Detectada em pelo menos 17 países, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a variante indiana do novo coronavírus ainda não chegou ao Brasil. Especialistas acreditam, no entanto, que isso deve acontecer em breve e alertam que o governo federal deve adotar barreiras sanitárias e ações de testagem para pessoas oriundas de outros países.
A nova variante apresenta três mutações que preocupam os cientistas. A primeira é a L452R. Ela torna o vírus mais facilmente transmissível, aumenta sua capacidade de replicação e lhe permite burlar alguns anticorpos. Outra mutação, a E484Q, foi detectada na mesma região onde se dá a adesão do vírus à célula humana. A terceira mutação é a P68IR, que pode facilitar a capacidade do Sars-CoV-2 de invadir tecidos.
Especialistas ainda não sabem se essas mutações tornam a variante mais virulenta. A variante indiana foi classificada pela OMS como “variante de interesse”. É diferente daquelas identificadas inicialmente no Reino Unido, Brasil e na África do Sul, consideradas “variantes de preocupação”.
“Nós ainda sabemos muito pouco sobre essa variante”, disse a imunologista Ester Sabino, da USP, uma das responsáveis pelo sequenciamento do vírus no Brasil. “Mas vivemos em um mundo globalizado; qualquer nova variante, em qualquer lugar do mundo, pode chegar aqui como chegou a pandemia que começou em Wuhan.
O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, do Rio Grande do Sul, concorda. “Se não houver bloqueios sanitários ou, pelo menos, testagem e quarentena para pessoas oriundas de países com transmissão sustentável dessa variante, ela deve chegar ao Brasil”, afirmou. “Nesse ponto, sou pessimista, acho que a tendência é que chegue mesmo porque, até agora, o Brasil não teve nenhuma política de bloqueio de entrada de passageiros, nem controle rigoroso na chegada de viajantes.”
O Ministério da Saúde informou que a decisão de adoção de barreiras sanitárias não é da pasta, mas da Presidência da República. A assessoria da Presidência, porém, afirmou que essa responsabilidade seria do Ministério da Saúde.
A chegada da nova variante não significa que haverá no Brasil uma terceira onda da pandemia, ainda mais severa do que esta segunda. “As nossas variantes P1 e P2 se alastraram tanto que nem a variante britânica nem a da África do Sul tomaram a frente. Foram poucas notificações”, explicou Spilki. “Caso a nova variante chegue ao Brasil, temos de continuar acompanhando essa disputa de espaço para ver o que acontece.”
Ester Sabino afirmou que é preciso estar atento a todas as variantes para verificar até que ponto elas poderiam escapar da proteção das vacinas disponíveis. Até agora, não há indicações de que o efeito das vacinas seja reduzido com a P1 nem com a variante indiana.
Mas quanto mais variantes circulam, maior é a tendência de surgimento de novas mutações, alertam os cientistas. Esse movimento é possível sobretudo em um País em que a vacinação contra a covid-19 avança tão lentamente, como o Brasil.
Fonte: Estadão