Entenda a situação financeira do Corinthians e os riscos assumidos pela diretoria em meio a reforços consagrados

Giuliano, Renato Augusto e Roger Guedes já tinham sido anunciados. Na terça-feira, foi a vez de Willian. Com a nota do Arsenal lhe desejando sorte, o atacante teve a volta confirmada ao Corinthians.

As contratações geraram onda de otimismo entre corintianos. Mas colocaram também pontos de interrogação. Com quase R$ 1 bilhão em dívidas, fora um estádio a pagar, de onde vem o dinheiro para tanto?

Neste texto, o blog explica os planos da diretoria alvinegra e apresenta números sobre as finanças em 2021. O balancete men

Anúncio de retorno de Willian ao Corinthians — Foto: Divulgação/Corinthians

Anúncio de retorno de Willian ao Corinthians — Foto: Divulgação/Corinthians

  • Qual é a estratégia da diretoria do Corinthians?

Dirigida por Duílio Monteiro Alves em seu primeiro mandato, presidente corintiano desde janeiro deste ano, a direção corintiana confia que o reforço do futebol ajudará a aumentar receitas do clube.

Campeonato Brasileiro tem 30% da verba de televisão aberta e fechada distribuídos aos participantes de acordo com a posição da tabela. O valor varia entre R$ 11 milhões para o 16º lugar e R$ 33 milhões para o campeão. Sem contar eventual aumento do pay-per-view.

Além disso, competições como Copa do Brasil e Libertadores pagam premiações cada vez mais altas. A verba é totalmente meritocrática. Quem avança até as fases finais tem os maiores repasses.

  • A folha salarial realmente foi reduzida?

Os balancetes publicados pelo Corinthians contam outra história. A folha abaixo representa o custo descrito como “pessoal” do futebol e os “impostos e contribuições”, também só do departamento de futebol.

  • 2020 – R$ 15,7 milhões por mês
  • 2021 – R$ 17,8 milhões por mês

Esses valores incluem salários, encargos trabalhistas, direitos de imagem e de arena e gratificações (bichos). O cálculo foi feito com a base mensal para que períodos diferentes possam ser comparados.

No caso de 2020, o total foi dividido por 13 (12 meses e 13º salário). Para o primeiro semestre de 2021, divide-se o montante por 6,5 (seis meses e metade de um mês como provisão para o 13º salário).

Houve, portanto, aumento da folha salarial entre as duas temporadas. É importante que valores comprometidos pelo clube nas rescisões de contratos também são contabilizados como “pessoal”.

  • Quais atletas foram dispensados ou emprestados?

A lista abaixo foi compilada dias atrás pelo jornalista Daniel Keppler.

  • Fevereiro: Janderson e Matheus Davó;
  • Março: Marllon, Yago, Fabrício Oya, Ederson, Walter, Jonathan Cafú, Madson, André Luís e Matheus Jesus;
  • Abril: Cazares, Michel Macedo e Everaldo;
  • Junho: Camacho, Fessin e Caetano;
  • Julho: Otero, Jemerson, Ramiro, Bruno Méndez e Sornoza
  • Agosto: Nathan e Mateus Vital

No cálculo apresentado para a folha salarial, estão consideradas todas as saídas entre janeiro e junho. Jogadores que deixaram o elenco de julho em diante terão seus efeitos contabilizados a partir dos próximos balancetes, a serem publicados pelo Corinthians em seu site.

  • As finanças do Corinthians melhoraram em 2021?

O resultado líquido do clube melhorou. Entre janeiro e junho, houve superavit (lucro) de R$ 394 mil. Um número muito melhor do que o apresentado ao término do ano passado, um deficit (prejuízo) de R$ 123 milhões. No entanto, essa linha tem pouca relevância no cotidiano.

O sinal mais claro de como a situação financeira alvinegra continua crítica está no endividamento. Nos primeiros seis meses do ano, os compromissos oscilaram praticamente no mesmo patamar.

A evolução das dívidas do Corinthians em 2021

Após seis meses da gestão de Duílio Monteiro Alves, as obrigações continuam críticas
O quadro fica ainda pior quando as dívidas são classificadas conforme o prazo para pagamento. Também em 30 de junho, o Corinthians encerrou o mês com R$ 588 milhões a pagar em menos de 12 meses.

Considerando que não “sobra” nenhum dinheiro na relação entre receitas e despesas, essas dívidas são impagáveis conforme as condições acordadas com os credores. Resta ao clube renegociar as condições.

A recuperação das finanças corintianas passa obrigatoriamente pela redução do endividamento, além da mudança de perfil: dívidas de curto prazo precisam ser aliviadas, para que o caixa não seja tão pressionado por cobranças no decorrer da temporada. Isso ainda não começou.

  • Como está a arrecadação do Corinthians em 2021?

Esta é a área que está principalmente sob responsabilidade de José Colagrossi, superintendente de marketing alvinegro. O profissional tem a missão de elevar o faturamento por meio da área comercial.

O Corinthians está lançando uma emissão de criptomoedas e conta com a chegada de novos patrocínios, inclusive para explorar a imagem de Willian. Mas esse dinheiro ainda não entrou. Trata-se de promessa.

Esses são os números referentes ao primeiro semestre:

  • R$ 145 milhões – direitos de transmissão*
  • R$ 47 milhões – patrocínios e publicidades
  • R$ 15 milhões – transferências de atletas
  • R$ 15 milhões – licenciamentos e franquias
  • R$ 5 milhões – premiações, sócio-torcedor e loterias
  • R$ 5 milhões – sócios
  • R$ 1 milhão – explorações comerciais

 

Total: R$ 233 milhões

*Direitos de transmissão incluem valores “pertencentes” à temporada de 2020, pois o Campeonato Brasileiro foi adiado por causa da pandemia do coronavírus e concluído somente em 2021

Negativamente, percebe-se duas coisas. Em primeiro lugar, transferências de jogadores estão baixas nesta temporada. Esse dinheiro é necessário para que despesas sejam pagas. Em segundo, o valor arrecadado é notavelmente menor do que o endividamento alvinegro.

Opinião do jornalista

A esta altura do campeonato, ninguém pode cravar que o “projeto” de Duílio Monteiro Alves (palavra muito repetida pela diretoria para justificar suas ações) dará errado. Nem tampouco que dará certo.

A lógica do aumento de receitas a partir de um futebol melhor não está errada. Pelo contrário. O futebol brasileiro não é mais um negócio em que o contrato de direitos de transmissão, assinado antecipadamente, garante a maior receita do país e pronto. Não estamos mais em 2010.

O Corinthians precisa, sim, de um futebol eficaz. Tanto para que tenha resultados esportivos melhores, o que de fato interessa, quanto para ganhar mais dinheiro, aquilo que aumenta as chances de vencer.

Só não se deve ignorar a situação constrangedora que o clube foi colocado. No início de agosto, salários do elenco estavam atrasados. O fundo de garantia dos jogadores e funcionários não é depositado desde 2019. Até jogadores da base estavam sem receber havia meses.

Se o futebol brasileiro fosse sério, um sistema de fair play financeiro impediria que o quadro chegasse a tal ridículo. O Corinthians não teria nem chegado ao ponto em que está. Só que o fair play financeiro, por omissão da CBF e também dos clubes, não existe. Só ouvimos falar.

Que fique claro: o torcedor não precisa deixar de festejar as contratações. Willian, Renato Augusto e os demais são bem-vindos ao Corinthians e ao Brasil. Nem esses jogadores devem ser rotulados como problemáticos do ponto de vista financeiro. Não se deve individualizar.

O problema do Corinthians não é a chegada de Willian agora, e sim todos os negócios mal feitos nos últimos anos, todas as contratações que geraram despesas e dívidas sem que o futebol funcionasse.

Os números do primeiro semestre mostram que não há nenhum alívio nas contas. Por enquanto, há planos e promessas. O ideal é que todos na opinião pública, torcedores e jornalistas, acompanhem de perto os próximos movimentos da diretoria do Corinthians. Sem alarmismo, mas sem confiança cega. Presente e futuro dependem dessa vigilância.

G1

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