Feminicida que passou 4 dias com corpo diz que briga começou por sumiço de anéis
O açougueiro Inácio Pessoa Rodrigues, 47 anos, disse que a briga que terminou na morte a facadas de Luciana de Carvalho, 45 anos, começou por conta do sumiço de dois anéis dela. O homem alega que a mulher tentou agredi-lo com faca, mas tomou objeto dela e atingiu com dois golpes no pescoço e nas costas.
Depois de constatar que a mulher havia morrido, deixou a faca na pia e o corpo na cozinha. Da quinta-feira (28), data da morte, até a prisão dele, ontem (1º), retomou a rotina, saindo para trabalhar, enquanto o cadáver permanecia em putrefação na kitnet, no Bairro Silvia Regina, em Campo Grande.
Eliane Benicasa, delegada titular da Deam: “ele é pessoa fria”. (Foto: Henrique Kawaminami)
A delegada Eliane Benicasa, titular da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), disse que o açougueiro foi preso em flagrante por ocultação de cadáver e homicídio qualificado por feminicídio.
Segundo a delegada, Luciana e Inácio estavam juntos havia um ano, em relacionamento conturbado. Em fevereiro desse ano, ela registrou boletim de ocorrência por injúria e vias de fato, solicitando medida protetiva. “Mas tudo indica que eles retornaram ao convívio”.
No dia 1º de julho foi a vez de Inácio Rodrigues registrar boletim de ocorrência na Deam contra a mulher, por injúria. No relato dele, Luciana constantemente o agredia e o xingava.
A noite do crime, conforme relatado por ele, teria sido mais um episódio em que foi atacado pela mulher. Disse que Luciana começou a brigar, o acusando de ter sumido com dois anéis dela. O homem foi dormir e disse que foi acordado por ela. Segundo Inácio, a mulher empunhada uma faca e novamente o acusava de ter sumido com os anéis.
Ainda no quarto, conforme depoimento dele, conseguiu tomar a faca e começou a atacá-la. Luciana correu para a cozinha, mas foi alcançada, sendo atingida nas costas e no pescoço. A delegada disse que somente a perícia irá definir quantos golpes foram desferidos.
Inácio Rodrigues foi preso e confessou crime. (Foto/ @sheriff67_oficial)
“Depois disso, ele saída de casa para trabalhar e fechava a casa para que não encontrassem o corpo na cozinha”, explicou a delegada. Os vizinhos começaram a estranhar o sumiço dela e, posteriormente, o forte odor que vinha da kitnet do casal.
Na noite de ontem (1º) o dono das kitnets, de 66 anos, foi procurado por uma das inquilinas, que relatou o mau cheiro e o sumiço da mulher. Ele usou a chave reserva e abriu a casa, encontrado o corpo de Luciana. O cadáver estava encostado no botijão de gás.
A polícia foi acionada e Inácio Rodrigues foi visto passando de bicicleta na rua. Os vizinhos avisaram a PM que o capturou após tentativa de fuga.
Segundo a delegada, Inácio Rodrigues tinha passagens por vias de fato, ameaça e a injúria relatada pela mulher. Deve ser submetido a audiência de custódia amanhã, permanecendo preso pelo flagrante. “Do jeito que os fatos ocorreram, ele deixou ali no local, é uma pessoa fria, pelo simples fato de manter o corpo da mulher por 4 dias”.
A Policia Civil tem até 10 dias para finalizar o inquérito, mas a delegada considera o caso praticamente encerrado, com autoria do crime conhecida, pendente, apenas, de laudos que complementarão a investigação.
Violência – A delegada disse que o número de feminicídios, de janeiro a julho de 2022, já superou a média regular de Campo Grande. Segundo Eliane, de 2015 a 2021, a média era de 5 a 8 mortes por ano na cidade. Este ano, o índice já chega, até agora, a 6 ocorrências.
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