Pacientes do Into reaprendem a executar tarefas em apartamento

Um apartamento funcional onde as pessoas reaprendem tarefas simples do dia a dia, como lavar louça, calçar sapatos, cortar frutas, estender a roupa no varal, ajuda na reabilitação de pacientes do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro. Esses pacientes têm limitações funcionais, provocadas por amputações, paralisias, lesões como fraturas no ombro e dores crônicas.

O espaço, inaugurado em 2015, simula uma casa de verdade, para que pacientes possam recuperar a autonomia por meio de adaptações nas tarefas que faziam no dia a dia, sob a supervisão de terapeutas. “Esse apartamento é uma ferramenta muito importante para o nosso trabalho porque, como terapeuta ocupacional, eu preciso proporcionar ao paciente a retomada dos papéis que ele deve desempenhar no dia a dia com independência e segurança”, disse à Agência Brasil a terapeuta ocupacional do Into Martha Menezes Lucas.

Para fazer isso, Martha precisa avaliar o paciente, enquanto ele realiza a atividade nesse espaço funcional, para poder intervir, buscando a melhor forma de fazer e proporcionando adaptação àquela atividade. O apartamento criado pelo Into tem cama e guarda-roupa, fogão, geladeira, armário, secador de roupa e banheiro adaptado. “Dependendo do interesse e da necessidade do paciente, ele vai me dizer: preciso varrer a casa e não consigo segurar a vassoura. Então, nós vamos lá, adaptamos a vassoura e ele vai varrer”. O mesmo ocorre quando há necessidade de cortar legume, coar um café. “A demanda vem dele. Eu avalio como ele consegue fazer e qual a melhor forma para que faça de forma eficiente e com segurança. Não pode derrubar, não pode se queimar”.

Benefício

Martha destacou que isso é importante não só para o terapeuta, mas para o paciente. “Porque ele consegue voltar para a sociedade de forma mais independente”. Ela observou também que isso diminui a necessidade de a família cuidar dele e de estar ao lado dele o tempo inteiro. “O paciente resgata em muito a qualidade de vida e a autoestima”. Ao se imaginar incapacitado, o paciente, em geral, tende a sentir depressão e desânimo. “A partir dessa possibilidade de se ver realizando as tarefas e a família ver que ele continua capaz, mesmo que precise modificar um pouco a forma de fazer, existe um ganho para ele e para a gente, enquanto terapeuta, porque conseguimos finalizar um processo de reabilitação, a partir do momento em que ele não tem mais dificuldade”, afirmou Martha Lucas.

A terapeuta esclareceu que nem todos os pacientes do Into têm necessidade de vivenciar a experiência no Laboratório de Atividades da Vida Diária, como é chamado o apartamento funcional. Somente aqueles que apresentam dificuldades ou que trazem ao instituto essa queixa. Ela garantiu que desde a inauguração do espaço até agora, todos os pacientes que viveram essa experiência saíram dali de forma independente. “A satisfação deles é nítida, é real”. Muitos, inclusive, relatam que se sentiram capazes, inclusive, de voltar a trabalhar, mesmo trocando a atividade laboral anterior por outra, devido ao problema adquirido.

Martha afirmou que o trabalho de reabilitação no apartamento funcional é mais ou menos longo. “Mas, com certeza, o benefício é visível e interessante”. Cada paciente é atendido individualmente, cada um no seu momento e com sua queixa. “Há uma troca bastante próxima entre terapeuta e paciente”.

Pacientes com dor crônica de coluna permaneceram no processo de reabilitação no laboratório pelo prazo de dois anos. Foram 100 pacientes atendidos em grupos de dez, todos tiveram alta e conseguiram realizar atividades que não faziam mais em razão da dor intensa. “Perceberam que é possível fazer suas atividades, respeitando seus limites, respeitando intervalos”.

Amputados

Os amputados são os que mais usam o espaço, considerando que eles precisam aprender a realizar as ações com e sem prótese, informou Martha Lucas. “Eu achei que nunca mais fosse conseguir arrumar a casa, fazer comida e hoje consigo fazer tudo isso e até trabalhar. Aqui na terapia ocupacional, percebi que era possível me adaptar a uma nova rotina e reaprender as atividades que fazia antes”, disse Regina Célia Freitas Soares, de 53 anos. No final de 2014, Regina sofreu um acidente de moto a caminho do trabalho. As sequelas foram graves e ela perdeu parte do braço esquerdo. Em tratamento há seis anos na terapia ocupacional, Regina está recuperando, aos poucos, sua autonomia.

A terapeuta, que acompanha Regina desde o início do tratamento, disse que apesar de ela ter uma sequela definitiva e uma evolução mais lenta por causa da gravidade do caso, “o objetivo sempre foi tentar resgatar a sua autoestima e mostrar que é possível realizar as atividades que ela fazia no dia a dia de maneira adequada, com algumas adaptações”.

Fonte: Agência Brasil

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