Após pandemia, pais temem novo atraso no aprendizado com greve dos professores

Com cinco filhos em casa, Luciene Moraes de Souza, de 34 anos, está tentando se virar nos 30 na última semana. Isso porque, quatro deles estudam na rede pública, que está sem aulas desde o dia 29 de novembro, data em que começou a greve dos professores em Campo Grande. Para a mãe, o que mais impacta é a aprendizagem das crianças. “Ficaram praticamente dois anos sem estudar direito, só remotamente durante a pandemia”, pontua. 

O marido de Luciene é padeiro e ela fica em casa, por esse motivo, apesar de ter gastos a mais com os filhos sem aula, por enquanto, não está tendo dificuldade com as crianças, que tem entre dois meses a 10 anos de idade, em casa. A maior preocupação mesmo é o ensino.

Luciene enquanto conversava com equipe de reportagem. (Foto: Marcos Maluf)
A mãe conta que as aulas remotas impactaram e percebeu dificuldade no desenvolvimento dos filhos, que estudam na Escola Municipal Ana Maria Lúcia Passareli, no Bairro Aero Rancho. “Eu percebo que o desenvolvimento deles está mais lento, ficaram preguiçosos e acabam que não querem estudar”, lamenta.

A dona de casa Marilene Tássio Gonçalves, de 46 anos, tem quatro filhos, sendo que três estudam na Escola Municipal Irene Szukala. Moradora do Aero Rancho passa o mesmo perrengue que Luciene para lidar com todos em casa, mas o que mais a preocupa é a aprendizagem.

Marilene é analfabeta e relata dificuldade em ensino dos filhos. (Foto: Marcos Maluf)
Ela conta que é analfabeta e, como o marido trabalha fora, não consegue ensinar os filhos. “Parado prejudica o ensino deles, porque eu sou analfabeta e não consigo ensinar eles em casa, acaba que eles têm que se virar sozinhos. Tirando isso, a rotina para mim está normal, porque como eu fico em casa eles ficam comigo, não dão muito trabalho, de vez em quando um enche o saco do outro, mas é coisa de irmão”, fala.

Sobre a greve, Marilene afirma que não é contra, mas que “poderiam ter esperado o fim do ano letivo para ser iniciada”.

Já a auxiliar de serviços gerais, Lidiane Maciel da Silva, 35, está tendo gastos a mais com os dois filhos, de 10 e 11 anos, sem aulas. As crianças também estudam na Escola Municipal Irene Szukala e no outro período, ficam com uma babá. A mulher, que recebe um salário mínimo e mora de aluguel, afirma que a paralisação tem impactado no orçamento.

Lidiane com a filha no portão da casa, no Aero Rancho. (Foto: Marcos Maluf)
“Está sendo bem ruim, porque eu pago uma menina para ficar com as crianças meio período. Essa greve acaba saindo do orçamento, porque quando estou trabalhando tenho que pagar o dia inteiro, pago 400 e ela fica com eles”, lamenta.

Além disso, Lidiane conta que também percebeu dificuldade no aprendizado da filha mais velha. “Prejudica o aprendizado das crianças, porque como ficou um tempo sem aula presencial, acaba que eles não aprendem nada. Minha filha mesmo está na 5ª série e tem muita dificuldade em fazer conta. Não sou contra a paralisação, mas eles poderiam ter esperado acabar o ano letivo”, diz Lidiane.

Greve – A greve dos professores foi deflagrada na última terça-feira (29) durante assembleia geral na ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais). A decisão ocorreu após a Prefeitura de Campo Grande entregar como proposta reajuste de 4,78% e mais um auxílio de R$ 400, sendo essa a última tentativa por parte do sindicato. A rede tem 202 escolas, com 8 mil professores e 110 mil alunos.

Conforme previsto em uma tabela de aumento escalonado, aceita pelos professores após negociações e definida pela Lei Municipal 6.796/2022, o reajuste deveria ser de 10,39% para dezembro. O piso é R$ 3,3 mil por 20h, e com o reajuste integral o salário dos professores vai para 3,8 mil.

CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

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