Ex-comandantes da PM analisam interferência política em quartéis e divergem sobre relação com Bolsonaro
RIO e SÃO PAULO – Em meio à intensificação das discussões sobre a politização dos quartéis e ao alerta disparado após a manifestação explícita de um coronel da Polícia Militar de São Paulo, O GLOBO ouviu quatro oficiais da reserva, todos com vasta experiência no comando de tropas.
Com gradações diferentes de preocupação em relação aos sinais que emanam dos integrantes da corporação, os coronéis minimizam a hipótese de um levante generalizado a favor do presidente Jair Bolsonaro. Há quem veja, no entanto, iniciativas do chefe do Executivo na direção da “cooptação” dos agentes, historicamente mais alinhados a posicionamentos conservadores.
‘Uma adesão total é impossível’
Ex-chefe do Estado Maior da PM do Rio, o coronel da reserva Robson Rodrigues avalia que policiais, sobretudo os praças da ativa, não embarcarão em “projeto arruaceiro” do presidente”.
Os níveis de politização na PM e no Corpo de Bombeiros estão mais elevados no governo Bolsonaro?
Estão elevados em toda a sociedade, em virtude da estratégia, sobretudo da ala mais radical do bolsonarismo, de insuflar as tropas e de aliciamento dos policiais. Toca toda a polícia, porque a corporação não é uma massa monolítica.
‘Há uma relação de confiança’
Para o coronel Mário Sérgio Duarte, ex-comandante da PM fluminense, há “identidade” entre policiais militares e o presidente Jair Bolsonaro. Duarte nega que o presidente semeie “indisciplina” na corporação.
O presidente Bolsonaro estimula a politização das polícias ou aproveita um fenômeno que já existe?
Com a segurança de quem conviveu com sua presença prestando solidariedade em sepultamentos, e em momentos de comemoração, posso assegurar que são sentimentos consolidados de identidade.
‘Simpatia não gera atuação inadequada’
Ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da PM de São Paulo, José Vicente da Silva avalia que “entusiasmo” das tropas com Bolsonaro não gera insubordinação.
O senhor acha que cresceu o apoio a Bolsonaro nos quartéis?
Participo de vários grupos de WhatsApp com coronéis da ativa. Há um evidente entusiasmo pelo Bolsonaro. Manifestação de filiação partidária pode causar divisões dentro do ambiente de trabalho do policial. Em um ambiente em que é necessário disciplina, preferências políticas são extremamente problemáticas.
Para o ex-comandante da PM de São Paulo, Glauco Carvalho, Bolsonaro “não consegue viver de forma pacificada” e tenta radicalizar uma parcela das polícias militares.
De que forma o bolsonarismo ganhou terreno na PM?
Bolsonaro nunca fez nada pelas polícias militares. Digo isso com muita tranquilidade, porque já fui assessor parlamentar. O bolsonarismo ingressa nas polícias por várias questões. A primeira é que a literatura acadêmica indica que instituições policiais têm perfil historicamente conservador. Segundo, é que parcelas da sociedade e da esquerda culparam as polícias militares por todas as mazelas do Brasil.
G1