Policial civil que estuprou presa em Sala Lilás de delegacia de MS é afastado compulsoriamente
Nesta quarta-feira (20), foi publicado no Diário Oficial do Estado o afastamento compulsório do servidor público, investigador da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, preso preventivamente pelo estupro de uma mulher de 28 anos. O crime foi cometido na Delegacia de Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo Grande, onde o policial trabalhava.
A publicação é assinada pelo delegado corregedor-geral, Márcio Rogério Faria Custódio. A decisão de afastamento compulsório das funções foi tomada após a decretação da prisão preventiva do policial civil, que está detido em uma cela da 3ª Delegacia em Campo Grande. O afastamento tem prazo conforme perdurar a medida imposta pela Justiça.
Foi determinado recolhimento das armas, carteira funcional e outros pertences do patrimônio público destinados ao policial, além da suspensão de senhas e logins de acesso aos bancos de dados da instituição policial, suspensão de férias e avaliação para fins de promoção. A decisão conta da data da prisão do servidor, 12 de abril.
Prisão preventiva por estupro
Após a prisão em flagrante, no dia 13 de abril foi decretada a prisão preventiva do policial civil de 41 anos, acusado de estuprar a mulher de 28 anos que estava detida na Delegacia de Sidrolândia. O crime aconteceu na Sala Lilás, destinada ao atendimento humanizado para mulheres.
Os crimes começaram logo no dia em que a mulher foi presa, em 4 de abril. Detida por tráfico de drogas, ela foi levada pelo policial civil até a Sala Lilás, por volta das 19 horas. Na ocasião, a mulher foi estuprada, sem uso de preservativo. Depois, foi levada até um quarto com beliches, onde o crime se repetiu.
O investigador ainda teria dito para a vítima tomar um banho e depois ela foi levada para a cela. Em depoimento, ela contou que estava sozinha e não conhecia ninguém, por isso não contou sobre o crime naquele dia. Segundo a mulher, ela ainda foi ameaçada de morte pelo policial, que disse que, caso ela contasse alguma coisa, ele “iria buscá-la onde quer que fosse para matá-la”.
Durante a semana, por várias vezes o investigador teria retornado até a cela da vítima, onde conversava com ela pelas grades e ‘acariciava’ a detenta, que estava presa preventivamente. Na noite do dia 11, também por volta das 19 horas, novamente o policial retirou a interna da cela e a levou para a Sala Lilás.
Os estupros voltaram a acontecer. A vítima relatou que chegou a implorar para que o crime não acontecesse. Desta vez, ela voltou para a cela chorando. Outros internos questionaram porquê ela chorava e o policial disse que ela estava sentindo saudade dos filhos. Algum tempo depois, a vítima confidenciou para a colega de cela o que tinha acontecido.
Tentou comprar silêncio dos presos
Sabendo que os presos desconfiavam, o policial teria oferecido para eles ‘qualquer coisa’ para comprar o silêncio. Ele disse que sabia o que os internos queriam, saiu e retornou momentos depois com um celular. Ao saberem dos estupros, os presos chamaram outro investigador, do plantão seguinte, dizendo que queriam entregar um celular que estava na cela para a delegada.
A delegada foi chamada, quando os presos entregaram o aparelho e revelaram os estupros sofridos pela detenta. Corregedoria foi acionada e todos os presos, bem como a vítima, foram ouvidos na delegacia. O policial civil foi preso em flagrante na casa onde mora, em Campo Grande, e passou por audiência de custódia nesta quarta-feira, quando foi determinada a prisão preventiva.
O acusado está em uma cela da 3ª Delegacia de Polícia Civil. Já a detenta, vítima do estupro, teve a prisão preventiva revogada também na quarta-feira.
Pedido de liberdade para o policial
Já na quarta-feira, a defesa do policial tinha feito o pedido de liberdade provisória. Após a decretação da prisão preventiva, novo pedido foi feito, já nesta quinta-feira. O juiz Albino Coimbra Neto, da Vara Criminal de Sidrolândia, tinha determinado a prisão por estarem presentes os pressupostos, como prova da materialidade e indícios de autoria.
Os fatos são confirmados pelo que foi registrado na prisão em flagrante, as imagens das câmeras de segurança e os depoimentos das testemunhas e da vítima. O magistrado pontuou a gravidade do delito sexual praticado contra pessoa custodiada pela Justiça, sendo que é servidor público com funções relacionadas à Segurança Pública e estava responsável pela custódia da vítima.
O crime foi cometido durante o exercício da atividade profissional do policial civil. A prisão foi decretada ainda pelo risco de haver novo enfrentamento entre autor e vítima. Agora, é aguardada decisão sobre o novo pedido de liberdade feito pela defesa do acusado. Até esta terça-feira (19), o Ministério Público ainda não tinha se manifestado.
por Renata Portela