Retrato da água: MS tem Rio Verde “ótimo” e pior qualidade em córrego de Bonito
O retrato das águas que correm por 73 rios de Mato Grosso do Sul mostra que o melhor resultado é do Rio Verde, que passa por Camapuã, Ribas do Rio Pardo, Água Clara e Brasilândia, na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná (não confundir com o rio de mesmo nome que corre em Rio Verde de Mato Grosso, bacia hidrográfica do Rio Paraguai). Já a pior água superficial está no Córrego Bonito, que atravessa a área urbana do município de mesmo nome e é conhecido pelos rios cristalinos.
Os resultados constam no “Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais de Mato Grosso do Sul”, documento publicado neste ano e que traz os resultados de 2022. O raio-x dos recursos hídricos é traçado por técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de MS), que percorrem os caminhos das águas em todo o território estadual.
O levantamento utiliza o IQA (Índice de Qualidade da Água), resultante da análise de cerca de 40 parâmetros físicos, químicos e biológicos, selecionados de acordo com os usos do solo e dos recursos hídricos.
Amostras de água coletadas em rios passam por exames nos laboratórios. (Foto: Imasul)
A escala vai de 0 a 100. Quanto maior a pontuação, maior a qualidade. O Rio Verde alcançou resultado de 92 no mês de novembro de 2022, se enquadrando no status de “ótima”.
Por outro lado, o IQA do Córrego Bonito em agosto do ano passado foi de apenas 16, portanto água “péssima”. Ele sofre impactos por atravessar o Centro da cidade.
“Existem várias ações que podem estar comprometendo, como lançamentos clandestinos e a própria lavagem. Se tem uma grande chuva, essa água vai drenar para o córrego e leva grande quantidade de contaminantes. É a poluição difusa, mais difícil de controlar”, afirma a bióloga e fiscal ambiental, Márcia Cristina de Alcântara Silva.
O Córrego Bonito corre por 10 quilômetros e chega no Rio Formoso, que também tem o IQA monitorado. No Balneário Municipal de Bonito, onde a principal atração é a água cristalina do Formoso, o índice chega a 80, portanto, indicativo de “ótima” qualidade.
De acordo com a bióloga, na maioria do tempo o resultado é de “ótimo” ou “bom”, evidenciando que as águas superficiais de Mato Grosso do Sul estão bem conservadas.
“Já os piores trechos são em pontos localizados à jusante de núcleos urbanos, porque aí tem toda uma influência, tanto de poluição da cidade, que a gente chama de eflúvio superficial urbano, e também os lançamentos de núcleos industriais”, afirma Márcia.
Caso de Campo Grande, que circunda o Rio Anhanduí e tem 916 mil habitantes. A urbanização impacta as águas resultantes da união do Prosa e do Segredo, a partir da confluência das avenidas Ernesto Geisel e Fernando Corrêa da Costa.
“Na jusante, o Rio Anhanduí tem trecho mais comprometido pela ação antrópica da cidade”, diz a bióloga. As ações antrópicas são aquelas realizadas pelo homem.
No monitoramento, trechos do curso de água tiveram IQA de 22 e 27 (ruim). O corpo hídrico corre pela área urbana de Campo Grande num tênue equilíbrio entre vida, lixo e degradação.
A microbacia hidrográfica abrange 36 bairros da Capital, como o Aero Rancho, Jacy e Parati. O Anhanduí deságua no Rio Pardo e as águas seguem viagem até o Rio Paraná.
Campo e laboratórios – A rede de controle da qualidade da água inclui 73 corpos hídricos, com 194 pontos de monitoramento. A coleta é trimestral, portanto quatro vezes ao ano e com um mês representativo de cada estação: verão, outono, inverno e primavera.
Parte do check-up das águas é realizada já no rio. “Os técnicos vão a campo, fazem a coleta das amostras e trazem para Campo Grande. Alguns parâmetros de qualidade são medidos no campo mesmo, com equipamentos portáteis. Para outros parâmetros, as amostras são trazidas para Campo Grande e feita a análise”, explica Márcia.
As primeiras medições, com a água coletada a 20 centímetros de profundidade, são de oxigênio dissolvido, pH, temperatura da água, condutividade elétrica, turbidez e sólidos dissolvidos totais.
Segundo a bióloga, essas informações são captadas no momento da coleta porque existem várias reações físico-química que ocorrem naturalmente na água.
Nos laboratórios, localizados no Imasul, em Campo Grande, começa uma nova rodada de análises. Coliformes termotolerantes, por exemplo, são indicativos de contaminação por esgoto. O exame mais demorado é o de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), que leva cinco dias para ficar pronto.
Os dados são digitalizados em planilhas, validados e geram boletim de resultados, disponíveis na página do Imasul (clique aqui). O resultado também pode levar a multas para quem polui os córregos e rios monitorados.
Água de todos – “O rio passa a ter maior pressão sobre ele com o crescimento das cidades e as informações orientam as políticas públicas. A sociedade precisa ter informação para que possa atuar, manter a qualidade e atender a todos esses usos: consumo humano, agricultura e indústria. A gente precisa que essa engrenagem funcione de forma harmônica para que o corpo de água tenha capacidade de autodepuração ”, destaca Márcia.
Nascido em 1994, o programa de Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais inspeciona rios das 15 unidades de planejamento e gerenciamento de recursos hídricos do Estado: Apa, Correntes, Miranda, Nabileque, Negro, Taquari, Aporé, Santana, Quitéria, Sucuriú, Verde, Ivinhema, Pardo, Amambai e Iguatemi.
“Começamos na Bacia do Paraguai e depois formos ampliando gradualmente para a do Paraná. A partir de 2021, conseguimos ampliar a rede para 100% do território do Estado”.
Em 2016, o Imasul aderiu ao Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas, em parceria com a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico).
Por Aline dos Santos – CAMPO GRANDE NEWS