Não compensa: com alta da gasolina, taxistas e motoristas de aplicativo começam a abandonar profissão
Pressionando a classe trabalhadora, o aumento dos combustíveis tem causado prejuízos e dificuldades para taxistas e motoristas de aplicativo de Campo Grande. A alta é sentida a cada quilômetro rodado, e com corridas que mal sustentam o custo do carro, o abandono da profissão tem se tornado cada vez mais comum na Capital.
Desde 1995 na profissão, o taxista Milton Alves, de 56 anos, observa com tristeza o acirramento das dificuldades e o abandono da profissão por diversos colegas de trabalho. “Como eu vou trabalhar desse jeito? Todo dia sobe, não tem mais condições. Tem muito taxista que está saindo fora do táxi, preço da gasolina, não tem corrida, não tem nada, acabou”, desabafou Alves.
O profissional ressalta que a escassez de clientes já era um problema, mas com a recente alta nacional no valor da gasolina aliada ao ICMS de 30%, imposto estadual sobre a gasolina, a situação ficou financeiramente inviável. “O governador tinha que dar uma baixada, ele não pode? Se eu sair às 15h e ver os dois colegas voltando, não volto para o ponto, depois da 17h não tem mais ninguém”.
Para quem viveu a era de ouro do táxi, hoje enxerga com tristeza a situação do setor, com cada vez menos profissionais. “As pessoas me perguntam cadê os táxis, não tá dando pra sustentar as famílias, conheço quem abandonou e foi vender espetinho, fazer outra coisa. Éramos 550, hoje se contar 70 é muito”, explicou outro taxista, Magno Carneiro de Souza, de 53 anos.
Com o custo da gasolina e aluguel do veículo, Carneiro já estuda um plano B, mas não esconde a indignação com a administração estadual. “O nosso estado tem um dos ICMS mais caros, ele [governador] quer mais, quer mais, não enche nunca. Nós estávamos trabalhando no vermelho e agora caímos para a zona de risco. Tenho 30 anos de táxi, estou quase na porta do gol para abandonar, vou para o sítio criar galinha, porco e uma horta para levar a vida”, desabafa o taxista.
“Só estou fazendo para o carro e o patrão”, é o relato de Mario Lopes, de 57 anos, que aluga o veículo de trabalho e tem passado por apertos para tirar o mínimo de lucro. O mesmo, observa o aumento dos combustíveis com temor, devido à grande oscilação nos preços. “Todo dia sobe, passei de manhã estava R$ 4,98 à tarde R$ 5,09. Acabou com a gente, tem muitos colegas que deixaram o táxi”, explicou Lopes.
Com mais de 20 anos de profissão o motorista viu o ponto de táxi que era cheio, se tornar cada vez mais parado e sombrio. “Aqui éramos em sete, agora estamos em três. Tá difícil, Tem que rever [o preço do combustível]”, disse Lopes.
E quem depende do aplicativo?
Se a situação é difícil para os taxistas, para quem largou tudo para se dedicar às corridas por aplicativos a situação da alta do combustível é um balde de água fria em qualquer possibilidade de ganho extra ou de nova profissão.
Criado por campo-grandenses, o aplicativo Motóra surgiu com objetivo do passageiro pagar pouco e o motorista ganhar mais. Mas com a alta dos combustíveis, um dos gestores administrativos da empresa, Diego Diniz da Silva, de 28 anos, explica que está cava vez mias difícil gerar lucro para os motoristas.
“Exatamente pela alta da gasolina e o preço da corrida sempre ficando mais baixo. Com os grandes aplicativos internacionais cobrando pouco, fica inviável ficar trabalhando. Eu rodo também, minha função é ouvir os motoristas e melhorar o serviço, está ficando inviável pelo custo cada vez mais alto e o valor da corrida baixo, não tem como competir”, explicou Diniz.
Além disso, vários motoristas que antes mantinham o sustento da família com o aplicativo, agora estão na fila por um novo emprego. “Com a pandemia muitos ficaram desempregados, foram para o aplicativo, aumentou a concorrência e o lucro caiu”, disse ele.
Imposto nas alturas
Levantamento divulgado nesta terça-feira (23) pelo Jornal Midiamax revela que a política tributária do Governo do Estado com relação aos combustíveis não teve o retorno defendido pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Desde o ano passado, a alíquota do ICMS sobre a gasolina subiu de 25% para 30% enquanto do etanol caiu de 25% para 20%. A justificativa era que a nova política incentivasse o sul-mato-grossense a consumir mais etanol e isso movimentasse ainda mais a cadeia produtora de etanol do Estado.
Contudo, em cinco anos do governo Reinaldo o consumo do etanol caiu 33%. A cada 100 litros de combustível vendido nos postos em 2020, só 17 foram de etanol.
Fonte: Jornal Midiamax